
No dia 24 de Janeiro pela madrugada, as comunidades de Chococoma e Chirodzi N’sanangue, na província de Tete, acordaram com a fúria das águas do rio Zambeze. Segundo os testemunhos das comunidades, e as evidências constatadas no local, a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) tinha aberto as suas comportas sem qualquer aviso para que se pudessem proteger a si e aos seus bens. Pelo menos 51 famílias destas duas comunidades perderam as sua machambas, provavelmente muitas mais. Os pescadores perderam as suas redes e alguns até os seus barcos.
Se realmente a HCB abriu as suas comportas sem ter a decência de avisar as pessoas que moram a jusante do rio para se prepararem, isto é no mínimo uma grande irresponsabilidade.
O que vai ser destas famílias que perderam o seu sustento? Já na época chuvosa do ano passado, 2020, houve semelhante desgraça e várias famílias perderam as suas machambas. Até quando esta irresponsabilidade e impunidade?
Antes da HCB ser “nossa”, as descargas sem aviso eram culpa dos portugueses, que não queriam saber do povo. E agora, qual é a desculpa?
Para quem ainda tem a ilusão de que as barragens protegem-nos das cheias, que os contínuos exemplos que a HCB nos dá nos sirvam de lição. As mega barragens, para produzirem energia hidroeléctrica e serem lucrativas, têm que armazenar o máximo de água possível. Portanto, quando chove a montante do local da barragem, estas em vez de fazerem pequenas descargas para não acumularem água demais, apenas pensam no lucro, e mantém as comportas fechadas. Quando a água torna-se realmente demasiada, são obrigadas a fazer descargas urgentes, e muitas vezes sem aviso prévio.
É claro que todos precisamos de energia, mas não podemos continuar a tapar os olhos para estes e tantos outros impactos das mega barragens – directamente relacionados com as suas características intrínsecas, com os objectivos para os quais são construídas, e com as prioridades de quem as gere.
Existem alternativas suficientes às mega barragens para as abandonarmos de uma vez por todas. Soluções energéticas limpas, seguras, descentralizadas, e geridas pelas comunidades não só podem resolver a pobreza energética do país, como são soluções para muitas das outras crises que enfrentamos – climática, de desigualdade, de desemprego, de democracia. Chega de irresponsabilidade e impunidade, as necessidades do povo têm que estar acima do lucro!
Prezados gestores da HCB, Estado Moçambicano, demais accionistas, é vossa responsabilidade averiguar este caso em detalhe e compensar as comunidades pelos danos causados pelas vossas descargas irresponsáveis e sem aviso prévio e suficiente!
A JA! vai continuar a fazer tudo que estiver no nosso alcance para que as comunidades sejam compensadas pelo que perderam. Os vídeos e fotos que seguem são testemunhos da desgraça e injustiça que estas comunidades têm vindo a sofrer.
A luta continua para protegermos o Rio Zambeze, o povo ribeirinho e os importantes ecossistemas.
Mais barragens no Zambeze NÃO!
Mphanda Nkuwa NÃO!#MphandaNkuwaNao