
A JA! tem vinda a denunciar inúmeras e graves situações relacionadas com os impactos das plantações da Mozambique Holdings nas comunidades locais em Tacuane, no entanto, a situação só tem vindo a agravar-se. Para além da perda de terras férteis onde sempre produziram os seus alimentos e que agora dão lugar à monocultura de seringueiras, recentemente denunciamos os abusos de poder e violação de direitos de várias famílias das comunidades de Limbue, Namadoe, Nvava e Nangaze que viram suas machambas e celeiros com milho destruídos. Estas machambas e celeiros foram destruídos, porque supostamente estão dentro da área concessionada à Mozambique Holdings. Estes actos foram praticados por funcionários da Mozambique Holdings conhecidos pelos membros das comunidades, no momento alguns destes viram a cena e imploraram que os deixassem pelo menos retirar o milho armazenado, mas tudo foi queimado. Este caso foi denunciado à Polícia e segue os seus tramites, enquanto aguardamos que justiça seja feita, os funcionários da Mozambique Holdings devidamente identificados e que levaram a cabo estas acções continuam a passear-se pelas comunidades como se fossem donos e senhores da área. Há inúmeros relatos de situações de agressão física a membros da comunidade que se atrevem passar pelos caminhos, vulgo corta-mato, que sempre utilizaram e que encurtam a distância entre estas comunidades, sendo que estes quando são interpelados pelos funcionários da Mozambique Holdings são no mínimo insultados, e muitos referem terem sido fisicamente agredidos.

“Um senhor, com a mulher e a filha de 16 anos, saiu de Nvava para Namadoe para assistir as cerimonias fúnebres da avó… no regresso já estava a ficar tarde e para não demorar no caminho a noite, usaram corta-mato, foram encontrados e perseguidos por um segurança da empresa e por um dos gerentes… tentaram fugir… mas o gerente estava de mota e perseguiu o senhor até lhe cortar caminho… quando apanhou, só foram bofetadas, a mãe e a menina também bofetadas, além das bofetadas também foram rasgadas as suas camisas, ficaram assim mesmo, sem camisa nem nada” conta uma senhora da comunidade de Namadoe, num encontro recente entre membros da comunidade e a JA!
A nossa primeira questão tem sido sempre porque não denunciam todas estas situações à Polícia? Aos líderes comunitários? Ao governo local?
Após um longo silêncio… a resposta tem sido sempre, temos medo! Este medo é evidente e tem fundamento, pois já houve reclamações e foram caladas, quem apresenta estas situações é prontamente acusado de estar contra a empresa, contra o desenvolvimento local, ser agitador e confuso… relembramos o encontro com os representantes do governo local e as 4 comunidades que teve lugar em 2019, onde os membros da comunidade levantaram-se e apresentaram as suas queixas, as suas lamentações e foram prontamente repreendidos pelo então chefe da localidade, foram mandados calar-se pois estavam a envergonha-los perante as visitas… a visita a que se referiram era a equipa da JA! evidentemente este encontro terminou de forma amarga, mas deixou claro aos membros destas comunidades que não há espaço para criticar a actuação da empresa.
Testemunhamos e denunciamos às autoridades governamentais o desmatamento de extensas áreas de vegetação nativa em redor das comunidades para dar espaço à plantação e a resposta demorou 2 anos, quando finalmente se deslocaram ao terreno não foi possível observar nenhum desmatamento, apenas plantação. Ainda assim, informamos que temos registo fotográfico deste desmatamento, mas isso pouco importa quando não se pretende actuar. Denunciamos ainda o estabelecimento das plantações junto a rios e riachos, em terra fértil e que estava a ser utilizada por estas comunidades para produção de comida, e ainda assim pouco ou nada foi feito. Uma equipa da AQUA deslocou-se ao local para averiguar estas situações, mas segundo os membros e líderes comunitários, a mesma dirigiu-se diretamente aos escritórios da empresa, não procurou perceber junto às comunidades que áreas foram retiradas, desmatadas, ou em que locais as plantações se encontram junto aos rios e riachos, nem nenhuma das demais queixas apresentadas na nossa denúncia. E assim, da sua visita à Mozambique Holdings concluíram que nada do que denunciamos foi observado no terreno! Não viram desmatamento! Não viram plantações junto aos riachos! Não viram nada para além das instalações e a versão unicamente da própria empresa!

As comunidades viram as suas terras mais produtivas, as zonas baixas serem arrancadas para dar lugar às plantações, e agora veem se obrigadas a abrir novas machambas, em zonas muito distantes! O desmatamento de novas áreas para dar lugar a machambas é visível e problemático, no entanto, estas comunidades sentem-se sem opções.
Este desmatamento, a alteração da paisagem e da vegetação natural é apontado pelas comunidades como uma das causas do aumento da intensidade das fortes tempestades de vento, que tem sido cada vez mais frequente, e que têm vindo a causar inúmeros e gravíssimos danos nestas comunidades. O desmatamento para dar lugar às plantações expos estas comunidades à força do vento, anteriormente estavam protegidos por uma barreira de árvores frondosas!

Nos últimos 3 anos, estas comunidades têm sofrido com estes vendavais, e os danos causados pelos mesmos tem vindo a agravar-se. No último mês e meio, tivemos informação de dois episódios destes, no último estávamos no local, vimos e vivemos o desespero destas comunidades a assistir, impotentes, à destruição de suas casas, coberturas de casas a voar, neste último episodio soubemos que 36 casas na comunidade de Namadoe foram afectadas.
A nossa luta por justiça social e ambiental continua! Promovemos a agroecologia como solução para a soberania alimentar!
