Seu nome é Amélia Carolina Muianga, tem 80 anos e é natural da cidade da Matola.
Quando era jovem depois do divórcio com o marido, o seu pai , que vivia na Vila da
Namaacha, chamou-lhe para ir viver com ele, desde esse tempo ate hoje nunca mais se
foi embora, trabalhou no tempo colonial para uma família abastada e cuidou da quinta,
das galinhas, dos ovos e de tudo o resto que havia por fazer na quinta….e tinha a sua
machamba também naquela terra tão boa para semear.
O tempo passou, os anos passaram, os filhos cresceram longe dela, não vieram viver
com ela, ficaram na Matola, hoje cada um está demasiado preocupado com a sua própria
vida para ajudar ou pensar na mãe que estava a envelhecer sozinha, infelizmente é assim a nossa sociedade actual, cruel e injusta…os velhos são desprezados e rejeitados pela família. Amélia viu-se sozinha com 80 anos de uma vida difícil contadas em cada ruga vincadas no seu rosto,em cada veia das suas mãos, uma vida dura, cheia de privações, de sofrimento, de solidão, a vida de tantas mulheres camponesas em Moçambique!
Esta mulher, que neste momento não poderei dizer que a sua história seja um sucesso,
porque infelizmente ainda não é, e só poderá ser quando Amélia conseguir melhorar e
mudar a sua vida, conseguir dinheiro para alugar um tractor para lavrar a sua terra de 12 hectares, conseguir colher da terra o alimento para a sua sobrevivência e até vender o
excesso dos produtos no mercado local, ter todos os dias um prato de comida… Não é um
sucesso não porque hoje a Amélia ainda não tem o que comer, mas tem uma terra fértil
para plantar, esta é a sua única riqueza.
Vamos retornar ao passado um pouco e saber como a Justiça Ambiental (JA!)conheceu a
Amélia e teve conhecimento da sua história.
Há uns anos atrás uma organização parceira encaminhou um grupo de camponeses
naturais da vila da Namaacha que se queixaram e vieram pedir ajuda a JA!por estarem, a
ser vitimas de usurpação das suas terras por parte do Município da Namaacha.
A JA! envolveu-se e depois de imensas acções,e reuniões, cartas de queixa à
Procuradoria, encontros e várias cartas dirigidas ao Edil do Município da Namaacha,
finalmente o Provedor da cidade de Maputo um dia contactou a JA! para um encontro no
Município da Namaacha, com todas as partes envolvidas para discutir os problemas
apresentados. Esta reunião foi crucial para o desfecho desta história não só do grupo de
camponeses(por volta de 50) como da própria Amélia.
O Provedor exigiu ao Município para devolver as terras aos seus legítimos donos os
camponeses e que estes tinham plenos direitos sobre ela. Nesta altura na sala levantou-
se uma senhora idosa que pediu o uso da palavra ao Provedor e contou a sua história.
Era velhota sozinha, e o Município tirou as suas terras porque acharam que era velha
demais e não fazia nada com elas. Esta senhora era a Amélia Muianga e nesse mesmo
dia o Provedor exigiu que devolvessem a terra no prazo de 15 dias a partir daquela data.
A devolução só foi feita passado 60 dias, mas com um pequeno senão, os marcos que
antes tinham sido montados pelo Município para dividirem e venderem as parcelas de
terra continuam lá, tanto no terreno dos 50 camponeses como no da Amélia. Hoje os
camponeses lavram a terra e semeiam com os marcos ainda no terreno.
Quanto à nossa Amélia, tem outros tantos problemas ainda por resolver, sem dinheiro
para alugar um tractor (cobram 1.000,00 mts por hora) com casas algumas delas já
construidas em tijolo no seu terreno, marcos montados pelo Município ainda a dividir
parcelas, ela pede-nos ajuda com os olhos tristes e cansados de quem só tem aqueles 12
hectares de terra rica para poder melhorar a vida de privações que tem!
A Justiça Ambiental não consegue ficar indiferente a tão desesperado apelo, não pode
prometer nada neste momento mas vai tentar dar a mão para que esta história consiga
ser “ um sucesso” amanhã e que a Amélia consiga ter a sua machamba e todos os dias
consiga também ter pelo menos um prato de comida nas suas mãos cansadas.
É o nosso desejo que todas as “Amélias camponesas” sejam de que idade for, espalhadas por este imenso Moçambique consigam um dia ter meios de sobrevivência através do seu trabalho árduo de plantar e colher os alimentos da terra, desta terra tão fértil que existe no nosso País …É por estas mudanças que nós todos devemos continuar a trabalhar!
A luta continua…por uma vida digna para todos!