Tudo Menos Natural: Ameaças à Expansão da Infraestrutura de Gás Natural Liquefeito (GNL) aos Ecossistemas Costeiros e Marinhos


O gás natural liquefeito (GNL) está a ver uma rápida expansão em todo o mundo. Maioritariamente extraído do solo através de fraturamento hidráulico ou outras formas de perfuração, o GNL é composto principalmente por gás metano. Quando arrefecido, o gás torna-se líquido e pode ser armazenado e transportado por mar usando navios-tanque especiais.

Quando o metano é queimado para obter energia, produz menos dióxido de carbono do que outros combustíveis fósseis, como o petróleo ou o carvão. No entanto, o metano é em si mesmo um potente gás com efeito de estufa, responsável por quase um terço de todo o aquecimento global que estamos a experimentar hoje (UNEP 2024).

Se os planos atuais se concretizarem, nos próximos anos os governos em todo o mundo gastarão mais de 1 bilião de dólares em nova infraestrutura de gás. As consequências negativas desta expansão serão múltiplas — especialmente para os oceanos do mundo.

Um investimento tão massivo arrisca aprisionar o mundo numa economia de combustíveis fósseis, quando a ciência é clara ao afirmar que não podemos investir em nova infraestrutura de combustíveis fósseis se quisermos manter o aquecimento abaixo de 1,5 ºC (IEA 2021). Construir infraestrutura cara que pode operar durante décadas dificultará a rápida transição para a energia renovável que o planeta necessita para evitar as piores consequências das alterações climáticas.

Algumas dessas consequências já são evidentes nos oceanos do mundo. As alterações climáticas ameaçam o sustento de milhões de pessoas que precisam de ecossistemas marinhos bem preservados para alimentação e rendimento.

Os últimos 10 anos foram os mais quentes dos oceanos desde pelo menos o século XIX, com 2023 a ser o ano mais quente já registado (NASA 2024). Ondas de calor marinhas destrutivas estão a tornar-se mais frequentes e intensas em todo o mundo. Episódios massivos de branqueamento de corais estão a destruir recifes e toda a vida natural que eles suportam. E as espécies estão a ser deslocadas dos seus habitats, movendo-se para águas mais frias e profundas, perturbando as cadeias ecológicas e impactando as pescas.

Mas além dos seus impactos climáticos, os planos de GNL também representam uma ameaça direta aos oceanos e às comunidades costeiras. Grande parte da infraestrutura proposta será construída em regiões icónicas, conhecidas pela sua beleza e extraordinária riqueza natural. As novas instalações aumentarão a intensidade do tráfego marítimo e a poluição sonora em corredores de migração marinha, áreas de acasalamento e criação, e importantes zonas de pesca.

A nossa análise mostra o que estes planos significam para algumas regiões selecionadas do nosso planeta:

  • Nos Estados Unidos, a contínua expansão do GNL ao longo da Costa do Golfo impactará desproporcionalmente as comunidades de cor em alguns dos estados mais pobres do país. Estas comunidades já experienciam má qualidade do ar devido às instalações de GNL em operação e sofrem regularmente com chuvas torrenciais e inundações causadas por furacões e tempestades alimentadas pelas alterações climáticas;
  • No México, a nova infraestrutura de GNL ameaça “o aquário do mundo”, lar de 40% de todos os mamíferos marinhos e muitas espécies em perigo de extinção. Se os planos atuais avançarem, vários novos terminais serão construídos numa região que é um santuário de baleias e está listada como Património Mundial da UNESCO;
  • Nas Filipinas, a construção de novos terminais de GNL adicionará mais pressão à Passagem da Ilha Verde, um dos lugares marinhos mais biodiversos do mundo. A região, muitas vezes chamada de “Amazónia dos Oceanos”, já é uma das rotas marítimas mais movimentadas do mundo e foi atingida por um derramamento de petróleo em 2023 com consequências devastadoras;
  • Na África Oriental, os desenvolvimentos de gás em Moçambique já causaram o deslocamento forçado de comunidades locais, estão ligados a conflitos violentos em curso e ameaçam várias espécies marinhas criticamente em perigo. A expansão offshore ocorrerá ao longo de uma costa cheia de mangais, recifes de coral e pradarias marinhas;
  • E, no Brasil, há planos para construir novos terminais de GNL ao longo da costa atlântica, uma região já repleta de infraestrutura de petróleo e gás. As populações de baleias serão particularmente afetadas, pois os novos desenvolvimentos sobrepõem-se às suas áreas de reprodução e rotas de migração.

O impulso global para o GNL é uma má notícia para os oceanos do mundo, a biodiversidade, o clima e as pessoas.

Em vez de apostar em soluções de curto prazo com impactos diretos para os animais marinhos e as comunidades costeiras, bancos e empresas devem redirecionar os recursos económicos para energias renováveis e soluções de longo prazo.

Ao mesmo tempo, os governos e as organizações internacionais devem garantir que as regiões ricas em biodiversidade sejam protegidas e os direitos das populações locais sejam respeitados.

Agradecimentos

A Earth Insight, Say No to LNG, CEED Philippines e Justiça Ambiental! agradecem ao Port Arthur Community Action Network (PACAN) e à ARAYARA pelo apoio e feedback útil nas versões iniciais deste relatório.

Citação Sugerida

Earth Insight & Say No to LNG. (2024). Tudo Menos Natural: Ameaças à Expansão da Infraestrutura de Gás Natural Liquefeito (GNL) aos Ecossistemas Costeiros e Marinhos. CC BY-ND 4.0

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