Estrada Maputo – Ponta do Ouro/ Fronteira traz ventos de mudança

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A edificação da Ponte Maputo – Katembe e as obras de reabilitação da estrada que liga a capital de Moçambique à localidade da Ponta do Ouro e à fronteira com a Província Sul Africana de Kwazulu Natal – aliada à naturalmente necessária expansão de tal fronteira – trarão aos cerca de 130 km que perfazem esse corredor, e à região de um modo geral, um conjunto de novas dinâmicas e inevitáveis problemáticas que, esperamos nós, as várias entidades competentes estejam a equacionar de forma abrangente, tendo em conta que, caso contrário, essa esperada levada de “desenvolvimento” poderá ter efeitos secundários ainda mais nefastos dos que já se adivinham.

Se é verdade irrefutável que a capacitação desta rota poderá potenciar o turismo, fomentar o investimento na região e servir o país com mais uma ligação rodoviária capaz à vizinha África do Sul – que, por exemplo, aproximará bastante a portuária e industrial cidade de Durban a Maputo – é facto igualmente irrefutável que se não forem tomadas as medidas necessárias para salvaguardar as riquezas naturais da região, para acautelar e regular o esperado aumento do número de visitantes à região (turistas e em trânsito) e para proteger e garantir os interesses dos nativos, corremos o risco de, na ânsia de trazer a nós o desenvolvimento que nos passava ao lado, sermos literalmente atropelados por ele.

Pelo que podemos observar, a inauguração da ponte deverá estar para muito em breve. À estrada, falta apenas completar alguns acessos, terminar as portagens (que parecem estar quase prontas) e ultimar a remanescente meia dúzia de quilómetros do curto desvio para a Ponta do Ouro. A expansão da fronteira é a única peça que falta no puzzle, não havendo ainda qualquer sinal de obra iminente à vista. No entanto, estará o trabalho de garantir que as mudanças trazidas por esta obra não lesarão as gentes e o património existente a ser devidamente conduzido?

Um dos pontos mais delicados deste trabalho será a gestão da relação entre este corredor e as duas reservas naturais da região – a Reserva Especial de Maputo e a Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro (que, por sua vez, é parte de uma área de conservação marinha transfronteiriça partilhada com a África do Sul e também da área de conservação transfronteiriça dos Libombos partilhada com África do Sul e Swazilândia) – com particular enfâse em relação à primeira, que será directamente afectada, fruto da incompreensível decisão de fazer esta rota atravessar o seu território.

A Reserva Especial de Maputo – que tem sido objecto relativamente recente de um louvável esforço de reintrodução de várias espécies e onde um árduo trabalho de conservação face à constante ameaça de furtivos é, há muito, desenvolvido – está hoje claramente mais frágil, pois desde que a estrada que a atravessa foi asfaltada, como já seria de esperar, sabemos que vários animais já foram atropelados. A verdade é que, infelizmente, apesar das lombas, dos sinais de limite de velocidade e até dos apelos dos guardas da reserva, – que face aos atropelamentos agora mandam parar os veículos à entrada da reserva numa tentativa vã de sensibilizar os condutores – este cenário dificilmente mudará. E apesar do indesculpável comportamento irresponsável e inconsciente dos automobilistas que ali transitam, certo é que só um perfeito idiota poderia pensar que seria diferente. A estrada que atravessa uma reserva deveria ser de exclusiva utilização daqueles que deliberadamente visitam o espaço, limitando-se assim o acesso a aqueles de quem se espera que, cientes de onde estão, tenham o comportamento adequado; nunca um corredor internacional onde motoristas de “chapas” e de pesados com horários a cumprir, ou turistas ansiosos por chegar ao seu destino, são “forçados” (meramente pela sua consciência) a reduzir a sua velocidade para 50km/h, ainda que por apenas meia dúzia de quilómetros.

Mas pronto… esse navio já zarpou. O mal está feito. Agora é minimizar os estragos. Nem que tenhamos que fazer operações stop em plena reserva… E este é apenas um exemplo, de um tópico específico. Os efeitos ambientais e socioeconómicos de uma mudança como a que imaginamos que se afigura (e que nós torcemos para que sejam o mais brandos e paulatinos possíveis) poderão ser gigantescos. Estamos preparados?

 

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