O Pato

par de duques

Se ao fim de meia hora não souberes quem na mesa é o pato, é porque és tu.

Ditado de Póquer

 

A 13 de Dezembro do ano passado, ao anunciar em conferência de imprensa o seu estranho investimento na famigerada EMATUM – uma das três empresas públicas moçambicanas usadas como fachada para a golpada das dívidas ocultas – o ex-espião e fundador de um dos mais notórios exércitos privados do planeta, Erik Prince, declarou em Maputo estar a “trabalhar nos detalhes finais para uma ‘joint venture’ com o Governo de Moçambique para desenvolver e melhorar a sua pesca de forma sustentável, profissional e ética”. Uma treta sem pés nem cabeça em que somente um mentecapto poderia crer.

Hoje, a escalada de violência no norte do país, o timing em que surge, a natureza hollywoodesca dos episódios registados, a surpreendente aparente tranquilidade de vários dos actores estrangeiros em Cabo Delgado quando o pânico é cada vez mais generalizado, o estranho facto de nenhum dos aparatos dos vários megaprojectos estrangeiros ter sido ainda visado, o facto destes ataques não terem sido ainda reivindicados por grupo algum, e claro, o ainda mal explicado envolvimento deste senhor em toda esta tramóia, estão a dar aso a um justificado mar de conjunturas, especulações e teorias da conspiração.

A título de exemplo, o Africa Monitor Intelligence (AMI) tem, nas últimas semanas, avançado com informações sobre alegados contratos de segurança entre as empresas de Prince e o Estado, particularmente na pessoa da Proindicus – outra das empresas de fachada da dívida oculta – tendo noticiado inclusive que Prince garantiu ao Estado que acabaria com a “insurgência islâmica” em 90 dias, a tempo das eleições de Outubro, a troco de chorudo contrato de segurança para a zona costeira que compreende a bacia do Rovuma. Já a Deutsche Welle, por sua vez, não se coibiu de, também na semana passada, insinuar a mão de Prince em todo este imbróglio, no artigo “Empresa de segurança de Erik Prince no norte de Moçambique seria resultado de trama ou um acaso?” Outros autores, jornalistas e académicos mais comedidos têm se debruçado mais sobre os aspectos e contextos sociais que estão a permitir a aparente proliferação destas ideologias e casos de violência. Muito se tem escrito sobre a situação que se vive hoje em Cabo Delgado, mas a verdade é que, especulações à parte, sabe-se mesmo muito pouco sobre o que se está verdadeiramente a passar no norte do nosso país.

Convictos que, muito do que se especula sobre hipotéticos contratos milionários de segurança e inteligência entre Prince e o Estado Moçambicano tem uma base de verdade, o papel das partes na calamitosa situação que se está a viver na Província da Cabo Delgado é uma assustadora incógnita. Estará Erik Prince por detrás deste “filme”, como insinua o DW? Estará o governo a par da jogada? Se sim, desde quando? E com que propósito? Se não, terá o nosso governo plena consciência de com quem está a lidar?

Uma coisa é certa, o pato nesta mesa de póquer em que o governo nos sentou somos nós. Só resta saber de que lado da mesa estão sentados os seus interesses.

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