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A JA! Amplifica a mensagem sobre a luta de Moçambique, pela justiça climática, no Fórum dos Povos, Estocolmo+50.

Estocolmo +50, Fórum dos Povos

7 de Junho de 2022

No início de Junho, os ativistas da JA! estiveram em Estocolmo para participar no Fórum dos Povos, Estocolmo+50, pela Justiça Ambiental e Climática. Este evento foi um encontro entre ativistas e a sociedade civil e aconteceu em paralelo com a Conferência Estocolmo+50 das Nações Unidas. Este evento é uma comemoração do aniversário de 50 anos da Conferência de 1972 da ONU, sobre Ambiente Humano. A ONU refere-se a isto como a cimeira que “pela primeira vez, fez a ligação entre o ambiente e a pobreza e que colocou este tópico na linha da frente da agenda internacional.”

Marcou também os primeiros encontros e manifestações paralelas, da sociedade civil, que aconteceram durante as cimeiras da ONU. Foi uma das bases para o processo de união de movimentos sociais de toda a parte do mundo, incluindo o Hemisfério Sul, para a discussão e planejamento estratégico conjunto e para fortalecer o trabalho direcionado à justiça social e ambiental. Ao mesmo tempo, foram ampliadas narrativas e apresentadas críticas no evento formal da ONU.

Através disto, foi criado um sistema onde a sociedade civil começou a se engajar em espaços mais formais e reuniões da ONU.

O Fórum dos Povos foi composto por três dias de atividades, desenvolvidas pela Aliança Estocolmo+50, que se define como um “coletivo da sociedade civil e dos movimentos sociais, da luta pela justiça ambiental, social e climática”. E, o propósito do evento foi de ser um espaço onde “os movimentos sociais planejam atividades paralelas, que realcem os princípios, demandas e ações, em resposta à profundidade e seriedade das crises que presenciamos- tendo como bases principais, a justiça global e desafiar das relações de poder.”

Para informação mais detalhada sobre o Fórum dos Povos:

A JA! Falou em quatro painéis, que se focaram em alguns elementos do seu trabalho. Estes painéis foram sobre a necessidade de acabar com os abusos e privilégios corporativistas, dizendo “sim” a um Acordo Vinculante da ONU para negócios e Direitos Humanos e, “não” aos acordos de comércio “livre” que ameaçam a democracia; o perigo das falsas soluções climáticas; a cumplicidade entre os fundos de pensão da Suécia e a destruição causada pelos combustíveis fósseis em Moçambique e outros lugares; ideias sobre que caminho seguir, depois de 50 anos de luta por uma mudança no sistema.

O fórum integrou também uma manifestação ou protesto, no centro de Estocolmo, onde os ativistas de comunidades de todo o mundo, incluindo a JA!, se manifestaram, junto de ativistas vindos do México, Namíbia, Colômbia e Líbano. Falaram para um público de no mínimo 300 pessoas, sobre o que o povo sueco pode fazer para lutar contra a injustiça climática, tal como exigir que os seus fundos de pensão sejam redirecionados para fora dos combustíveis fósseis.

O fórum levantou a grande questão, sobre o que teria mudado em cinco décadas de luta por justiça climática, ambiental e social e, como poderíamos aproveitar os aprendizados disto, para de forma coletiva, fortalecer estas lutas. Mas, para poder responder a estas perguntas, é importante observar o que ainda não mudou.

Por exemplo, apesar de companhias como a Shell estarem bem conscientes sobre as alterações climáticas desde 1981, ainda não temos um Tratado Vinculante a nível das Nações Unidas, um Tratado que obrigaria a que estas companhias agissem com princípios básicos de humanidade. A captura corporativa tem se tornado mais predominante, os acordos bilaterais mantêm-se vantajosos para os estados nórdicos e antigas potências coloniais. E, processos como Relações de Disputa Investidor-Estado, aumentaram o desequilíbrio e desigualdade das relações de poder, direcionando ainda mais estas relações de poder, para as grandes corporações multinacionais.

O legado da colonização, mantém-se devastador para as antigas colónias e Moçambique é um bom exemplo disto. Basta olharmos para a indústria de gás nas províncias de Inhambane e Cabo Delgado, vemos que países como o Reino Unido, Portugal, Itália, Holanda e África do Sul, estão a beneficiar e irão continuar a beneficiar dos projetos de gás fóssil, liderados pela Total, Eni, ExxonMobil, Sasol e muitas outras. Enquanto isto, a economia Moçambicana continua a colapsar e o seu nível de dívida a aumentar. Os governos do Norte têm consciência de que as suas companhias estão a destruir o Hemisfério Sul, mas no entanto, as suas narrativas de “gás para o desenvolvimento” permitem que beneficiem das estruturas coloniais históricas, criadas por eles mesmos, de pobreza, dívida e corrupção.

Persiste uma falta de responsabilização pelos impactos da indústria- as comunidades perdem as suas casas e sustentos de vida e são afastadas para centros de refugiados e destruídas por uma guerra violenta, alimentada pela indústria, que já matou milhares e criou quase um milhão de refugiados.

A necessidade de continuar a realizar eventos como o Estocolmo+50, mostra como muita coisa ainda não mudou.

Como é que é possível que os países mais poderosos do mundo e o mais respeitado organismo internacional, ainda sejam incapazes de controlar as companhias fósseis e bancos? E, que até agora se recusam a cortar o seu financiamento para os combustíveis fósseis? Como é que é possível que existam Tratados, como o de Paris e Glasgow e, que mesmo assim, ainda seja necessário lutar para que os estados nórdicos invistam na diversa gama de recursos renováveis que a Terra oferece? Como é que até agora não temos um Tratado Vinculante contra Corporações Transnacionais, na ONU, quando companhias já mostraram vezes sem conta, que não irão cumprir voluntariamente, com os regulamentos dos Direitos Humanos?

No entanto, também houve algumas mudanças. A introdução de tratados sobre o clima, referidos em cima, mostra que a pressão vinda da sociedade civil e dos povos do Sul, tem resultado. Enquanto prevalece uma dificuldade para conseguir que as companhias atuem de acordo com estes tratados, e embora que os mesmos ainda deixem muito por desejar, o mero facto de que estes existem, significa que as instituições de poder, como a ONU e a União Europeia, estão pelo menos a virar para a direção certa. Os Governos de países onde está a decorrer o extrativismo, têm reprimido jornalistas e ativistas, no entanto, as pessoas continuam a enfrentá-los; enquanto corporações transnacionais continuam a fugir aos impostos nos países onde operam, as pessoas continuam a lutar pelos seus direitos a serviços básicos.

Outro aspeto promissor, manifestado no Fórum dos Povos, foi o enorme número de pessoas jovens, de todo o mundo, a fazer frente ao problema climático e a radicalizar as suas lutas locais. Estes jovens levantaram uma questão crucial: A narrativa que é preciso mudar e que já começou a ser mudada, é a narrativa de que a luta pela justiça climática deve ser inclusiva, deve ser uma luta que vai para além de danos ambientais, mas que também seja uma luta de justiça para os mais pobres e para as pessoas mais afetadas pelas alterações climáticas.

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Amigos da Terra África

Tribunal Africano dos Povos para Desmantelar o Poder das Corporações de Plantações Industriais, Construindo Poder Popular

LAGOS, NIGÉRIA, 23 de novembro de 2020

Amigos da Terra África, através do seu Programa Floresta e Biodiversidade organiza a Primeira Sessão do Tribunal Africano dos Povos de 25 a 27 de novembro de 2020. O evento principal terá lugar fisicamente na cidade de Lagos, Nigéria, e devido às restrições e medidas de segurança impostas pela pandemia do Covid19, inúmeras sessões e apresentação de casos estarão a decorrer em paralelo e em sintonia a partir de Maputo, Acra, Dar-Es-Salaam, Kampala, e outras capitais Africanas.

Comunidades afectadas e sociedade civil trarão testemunhos sobre 10 casos de violações de direitos humanos e degradação ambiental relacionadas à expansão das monoculturas de árvores em África.

A legitimidade do tribunal é baseada no princípio de reconhecer os direitos humanos de acordo com o direito natural, nacional e internacional, e reivindicar e restaurar os direitos das pessoas afetadas cujos direitos foram violados impunemente.

Rita Uwaka, coordenadora do programa de Florestas e Biodiversidade da Amigos da Terra África, afirma que “A usurpação agressiva de terras e o desmatamento para expansão das plantações industriais de árvores está a causar uma nova onda de opressão e colonização em África, com impactos devastadores sobre as pessoas, com consequências agravadas para as mulheres. ”

Kwami Kpondzo, ponto focal dos Defensores de Direitos Humanos da Amigos da Terra África, acrescenta que “Em face da contínua injustiça social, ambiental e de género em África, defender os direitos das pessoas é crucial para desmantelar o poder corporativo e desafiar o modelo capitalista neoliberal de expansão das plantações industriais.”

Todos os dez casos demonstram como os financiadores internacionais, incluindo bancos de desenvolvimento, bancos privados, fundos de investimento e fundos de pensão de todos os cantos do mundo, estão a controlar e financiar as controversas empresas de plantações de borracha, óleo de palma e madeira. Entre as empresas acusadas estão Socfin, Green Resources AS, Golden Veroleum Liberia (controlada pela Golden Agri-Resources), SIAT SA, OLAM e PZ Wilmar.

Cinco eminentes jurados irão analisar os casos e darão um veredicto no terceiro dia do Tribunal. Estes jurados incluem:
– Nnimmo Bassey, arquitecto, poeta, activista e director da Fundação Health of Mother Earth Foundation (HOMEF) da Nigéria,
– Ikal Angelei, vencedora do Prémio Ambiental Goldman para a África em 2012 e está envolvida em campanhas contra barragens, do Quénia;
– Alfred Apau Oteng-Yeboah, professor de Botânica na Universidade do Gana;
– Hamudi Ismail Majamba, professor associado de direito especializado em recursos naturais e direito ambiental e advogado do Tribunal Supremo da Tanzânia;
– Makoma Lekalakala, activista Sul-Africana e Directora Executiva da Earthlife África, há vários anos envolvida em movimentos sociais que abordam questões de género e direitos das mulheres, questões sociais, económicas e de justiça ambiental.

A Amigos da Terra África exige que as empresas de plantações industriais parem com as suas actividades nefastas em todo o continente Africano. Apelamos também aos tomadores de decisão públicos e privados para que trabalhem com a sociedade civil e as comunidades locais de modo potenciar e ampliar o maneio florestal comunitário e o uso da terra de forma sustentável e de gestão comunitária, baseada na agroecologia. Os direitos dos povos indígenas e comunidades locais, incluindo o acesso e o controle de seus próprios bens comuns e meios de subsistência, devem ser respeitados e protegidos.

A Amigos da Terra África compromete-se a continuar a lutar ao lado de povos indígenas e comunidades locais afectadas pelas actividades das corporações transnacionais, para impedir e travar a expansão das plantações industriais, e desmantelar o poder e impunidade corporativa em todo o continente Africano.

Para assistir ao Tribunal com opções de interpretação para Inglês, Português e Francês, por favor entre em contacto através do email: vcabanelas.ja.mz@gmail.com

PARA INFORMAÇÕES ADICIONAIS
Para um resumo dos dez casos e mais informações, consulte: http://africanpeoplestribunal.org/


Para participar na na conferência de imprensa online no dia 27 de Novembro de 2020, entre em contacto com Philip Jakpor: +234 803 725 6939 ou jakporphilip@gmail.com

CONTACTOS EM MAPUTO:

Vanessa Cabanelas, Coordenadora do Programa Terra, Vida e Ecossistemas da Justiça Ambiental: vcabanelas.ja.mz@gmail.com


CONTACTOS EM LAGOS:
Philip Jakpor: Director de Programas, Responsabilidade Corporativa e Participação Pública em África: +234 803 725 6939 ou jakporphilip@gmail.com
Rita Uwaka: Coordenadora do Programa de Florestas e Biodiversidade da FoEA: +234 803 455 3503 ou riouwaka@gmail.com

COMUNICADO DE IMPRENSA

Apesar das limitações do COVID-19, a sociedade civil impulsiona o histórico Tratado da ONU sobre Corporações Transnacionais e Direitos Humanos.

3 de Novembro, Genebra

A sexta ronda de negociações do Grupo de Trabalho Intergovernamental de Composição Aberta (OEIGWG) das Nações Unidas (ONU) incumbido de elaborar um instrumento juridicamente vinculativo sobre “corporações transnacionais e outras empresas em questões de direitos humanos”,1 teve lugar em Genebra de 26 a 30 de Outubro de 2020.

A presença contínua desde 2015 – o início deste processo – de centenas de representantes de comunidades afectadas, organizações da sociedade civil, sindicatos e movimentos sociais torna-o um dos mais fortemente apoiados na história do OEIGWG. Este ano, porém, devido às restrições do COVID-19, a presença física em Genebra foi limitada.

A Campanha Global para Reivindicar a Soberania dos Povos, Desmantelar o Poder Corporativo e Parar a Impunidade (Campanha Global)2 contribuiu como sempre com propostas substanciais e concretas para o texto negociado, tanto de Genebra como através das ferramentas online da ONU.

No início de Setembro, a Campanha Global avisou que a pandemia global do COVID-19, significava que não eram possíveis condições adequadas para uma sessão de negociação e para assegurar a sua inclusividade e carácter participativo. Embora a participação remota tenha sido permitida pela ONU através de várias plataformas online, problemas técnicos repetidos dificultaram a intervenção remota nas negociações. A declaração da Campanha Global no último dia das negociações confirmou que a sua “avaliação original estava correcta, uma vez que as dificuldades que todos encontraram nesta sexta sessão resultaram num processo abaixo do ideal. Recordamos que este processo deveria ser uma negociação intergovernamental, com amplo espaço para a participação da sociedade civil de acordo com as normas do ECOSOC”.

Vários Estados mostraram mais uma vez o seu compromisso com o processo e apoiaram um Tratado Vinculativo ambicioso que respeite a resolução 26/9 e um foco na regulamentação de corporações transnacionais, tais como a África do Sul, Cuba, Egipto, Azerbaijão e Namíbia.

Isto contrasta com países cujas economias dependem fortemente de corporações transnacionais com operações no estrangeiro que sempre se opuseram a este processo da ONU, tais como os Estados Unidos, o Japão, o Canadá e a Austrália, bem como a Câmara de Comércio dos E.U.A. e a Organização Internacional de Trabalho – ambas com estatuto consultivo na ONU.

Tal como em rondas de negociações anteriores, a União Europeia – cujos Estados membros votaram em bloco contra a resolução 26/9 – não contribuiu para as negociações do texto. Na realidade, a presença da UE limitou-se a fazer perguntas de esclarecimento. Isto aconteceu apesar de 847.000 cidadãos Europeus terem apelado à participação da UE nas negociações.3 Autarcas e membros do Conselho Municipal de cidades Europeias, incluindo Barcelona, Marselha e Estrasburgo, apelaram na semana passada às autoridades locais de todo o mundo para que apoiassem o Tratado Vinculativo da ONU sobre Corporações Transnacionais e Direitos Humanos.4

Lilian Galan, deputada do Parlamento do Uruguai e membro da Rede Interparlamentar Global de apoio ao Tratado Vinculativo5, afirmou:

“Gostaríamos uma vez mais de salientar – como a maioria dos Estados – a necessidade urgente de respeitar o mandato do OEIGWG estabelecido pela resolução 26/9. O objectivo do mandato é regular as actividades das corporações transnacionais no que diz respeito ao direito internacional dos direitos humanos. Isto é explícito e todas as partes devem ter isso em mente”.

Erika Mendes, da Justiça Ambiental JA! Moçambique e co-coordenadora regional do programa Justiça Económica e Resistência ao Neoliberalismo para Amigos da Terra África, afirmou:

“A audiência judicial da passada quarta-feira em França contra a gigante petrolífera Total mostrou o quão importante é melhorar o acesso à justiça para as comunidades afectadas, concedendo jurisdição aos tribunais dos países de origem das corporações transnacionais. No entanto, reunir evidências no Uganda tem sido uma batalha difícil, uma vez que os líderes e organizações comunitárias enfrentam ameaças e assédio contínuos. Em Cabo Delgado, Moçambique, a Total está também a liderar o boom do gás que tem vindo com o aumento dos conflitos, violência, corrupção, violações dos direitos humanos e desigualdade social. O tratado vinculativo deve ir mais longe, invertendo o ónus da prova, garantindo o direito das comunidades ao Consentimento Livre, Prévio e Informado, e garantindo uma melhor protecção para os defensores dos direitos humanos”.

Josua Mata, da Asia Task Force sobre o Instrumento Legalmente Vinculativo (ATF):

“Ouvimos repetidamente que a elaboração de um instrumento juridicamente vinculativo levará anos. Alguns dizem que dez anos. Gostaríamos de lembrar aos que negoceiam em nosso nome que quanto mais tempo demoram, mais tempo o nosso povo, a nossa terra e o nosso planeta sofrem com a devastação de corporações transnacionais sem escrúpulos”!

Numa declaração final entregue no último dia das negociações, a Campanha Global anunciou:

“Num contexto de grandes dificuldades e desafios, a Campanha Global reafirma a sua fé neste processo. Apesar de todos os desafios que enfrentamos, demonstrámos – através do nosso compromisso e numerosa participação – que continuamos plenamente convencidos de que este instrumento juridicamente vinculativo é necessário para fazer justiça às pessoas afectadas e para pôr fim à impunidade das corporações transnacionais. O processo encontra-se numa fase crítica, com muitas ameaças a surgirem no horizonte. Assim, fornecemos as nossas propostas e opiniões para restaurar a vitalidade deste processo histórico e renovar o compromisso tanto das delegações como da sociedade civil em alcançar um tratado bem sucedido e duradouro para finalmente abordar a impunidade corporativa”.

1 Este mandato é o resultado da resolução 26/9 adoptada pelo Conselho dos Direitos Humanos em 2014. Página oficial: https://www.ohchr.org/en/hrbodies/hrc/wgtranscorp/pages/igwgontnc.aspx

2 Uma rede de mais de 250 movimentos sociais, organizações da sociedade civil (OSC), sindicatos e comunidades afectadas pelas actividades das corporações transnacionais (TNCs), representando 260 milhões de pessoas a nível mundial – https://www.stopcorporateimpunity.org/

3 https://stopisds.org/

4 https://bindingtreaty.org/local-authorities-in-support-to-the-un-binding-treaty/

5 A Rede Global Interparlamentar em apoio ao Tratado Vinculativo da ONU é formada por mais de 300 membros de parlamentos de todo o mundo. https://bindingtreaty.org

Comunicado de Imprensa

O Acordo de Glasgow: uma nova iniciativa para o movimento pela justiça climática

O movimento pela justiça climática tem uma nova ferramenta para lidar com as mudanças climáticas e alcançar a justiça climática: o Acordo de Glasgow. Esse compromisso se propõe a resgatar a iniciativa de governos e instituições, criando uma ferramenta alternativa de acção, colaboração e articulação entre diversos grupos de justiça climática em volta do mundo. Os grupos usarão várias táticas, incluindo desobediência civil, para conseguir os cortes de emissões necessários para evitar um aumento de temperatura de 1,5ºC até 2100.

Este acordo, que pode ser lido aqui, foi construído durante os últimos meses com várias organizações de todo o mundo. O movimento pela justiça climática pressupõe a necessidade de cortar coletivamente as emissões de gases de efeito estufa por meio de uma estrutura política de justiça climática. Para alcançar esses cortes necessários, as organizações farão inventários territoriais dos principais sectores e emissores de gases de efeito estufa e de projectos futuros e, a partir disso, criarão uma agenda climática com prioridades de actuação em encerramento e transformação. Globalmente, o Acordo de Glasgow propõe a criação de uma agenda climática mais ampla, baseada em prioridades territoriais, para o movimento pela justiça climática. Nacional e internacionalmente, as organizações do Acordo de Glasgow apoiarão umas às outras com táticas e conhecimento, a fim de cumprir as agendas climáticas locais e globais.

Existem actualmente mais de 50 organizações, de mais de 20 países e 3 continentes diferentes trabalhando no processo do Acordo de Glasgow. O acordo será assinado em Novembro, tanto offline quanto online, na iniciativa “From the Ground Up” da Coalizão COP26. Três meses após a assinatura do Acordo de Glasgow, os membros terão produzido seu primeiro inventário nacional dos principais emissores de gases de efeito estufa e futuros projectos que aumentem as emissões, a fim de criar a agenda climática correspondente.

Se quiser saber mais sobre o Acordo de Glasgow, pode visitar o site aqui ou entrar em contato com:

Myrtille Huchette (France): +33 076 980 4777

Nicole Figueiredo (Brazil): +55 (41) 8445 0000

Samuel Mondlane (Mozambique): +258 82 120 1066

Samuel Martin-Sosa (Spain): +34 686 961 486

COMUNICADO DE IMPRENSA

Processo histórico continua na ONU: Estados resumem negociações substanciais em torno do texto para um tratado vinculativo sobre corporações transnacionais em questões de direitos humanos

28 de Outubro, Genebra

Em meio aos desafios impostos pela pandemia do Covid-19, o Grupo de Trabalho Intergovernamental de Composição Aberta (OEIGWG) das Nações Unidas (ONU) entra na sua sexta ronda de negociações em torno de um tratado sobre “corporações transnacionais e outras empresas em questões de direitos humanos”i, de 26 a 30 de Outubro. Os Estados membros da ONU irão debater a segunda versão revista deste tratado, que visa elaborar um instrumento internacional juridicamente vinculativo para regular, no âmbito da legislação internacional dos direitos humanos, as actividades das empresas transnacionais.

O interesse no processo continua a crescer, como evidenciado pela presença significativa de delegados dos Estados membros da ONU que participam nas negociações.

A Rede Global Interparlamentar (GIN) emitiu uma declaração de apoio ao tratado vinculativo da ONU, instando “os Estados a empenharem-se activamente neste processo da ONU e a trabalharem no sentido de um instrumento eficaz e juridicamente vinculativo, para assegurar que a dignidade das pessoas – consagrada pelos direitos políticos, económicos, sociais e culturais universais – tenha prioridade sobre os lucros e seja garantida a nível mundial”ii.

Autarcas e membros do Conselho Municipal de cidades incluindo Barcelona, Estrasburgo e Paris lançaram um apelo às autoridades locais de todo o mundo para apoiarem o tratado vinculativo da ONU sobre corporações transnacionais e direitos humanosiii.

A presença contínua desde 2015 – o início deste processo – de centenas de representantes de comunidades afectadas, organizações da sociedade civil, sindicatos e movimentos sociais torna-o um dos mais fortemente apoiados na história do OEIGWG. Este ano, porém, devido às restrições da pandemia do Covid-19 , a presença física em Genebra é limitada, embora a participação remota tenha sido permitida através de várias plataformas em linha. Neste contexto, a Campanha Global para Reivindicar a Soberania dos Povos, Desmantelar o Poder Corporativo e Parar a Impunidade (Campanha Global)iv, juntamente com a GIN, organizou uma conferência de imprensa virtual (gravação completa aqui) com actores políticos e da sociedade civil de alto nível.

Leïla Chaibi, deputada do Parlamento Europeu, França Insoumise (GUE/NGL) observou:

“Hoje em dia não existe um tratado internacional vinculativo que proteja as pessoas, mas existem tratados que protegem os investimentos das grandes empresas. Graças a iniciativas como a Toxic Tour, pude ver como estas empresas destroem a saúde e as comunidades no México. A UE não teve qualquer problema em assinar acordos de livre comércio com outros países, o que é profundamente injusto. Juntamente com muitos outros deputados, continuaremos a pedir que não nos coloquemos à margem destas violações dos direitos humanos por parte das corporações transnacionais”.

Charles Santiago, Membro do Parlamento Malaio e Presidente dos Parlamentares da ASEAN para os Direitos Humanos declarou:

“Actualmente, 43 milhões de pessoas foram infectadas pelo Corona Vírus e mais de um milhão já morreram. Trata-se de uma catástrofe. Desenvolver uma vacina Covid-19 é crítico e tem de ser um bem público global. Os preços e os lucros precisam de ser regulados. As disposições relativas aos Direitos de Propriedade Intelectual (DPI) nos acordos TRIPS (Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio) precisam de ser suspensas para permitir a produção de patentes de produtos genéricos e bio similares.

As empresas transnacionais (TNCs) e os países ricos recusam-se a suspender as disposições em matéria de DPI porque, segundo eles, isso prejudicaria a protecção de patentes. Deve ser desenvolvido um mecanismo global para regular os grandes produtos farmacêuticos em questões de preços, lucros e direitos de propriedade intelectual. A abordagem “normal” das empresas transnacionais que dá prioridade ao lucro durante uma pandemia global não é politicamente sustentável. O Tratado Vinculativo da ONU é o melhor lugar para redefinir e reforçar a responsabilização das TNCs”.

Dr.ª Manoela Carneiro Roland, Coordenadora do HOMA (Centro de Direitos Humanos e Negócios) e Prof. Da Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil, declarou:

“Temos de regular as empresas transnacionais. Isto implica o estabelecimento de obrigações directas para estes actores. As empresas transnacionais já têm direitos estabelecidos nos mais de 3.000 acordos de investimento assinados. Precisamos de mudar o paradigma da devida diligência, porque é um quadro que erroneamente atribui às empresas a tarefa de auto-controlo. Temos de estabelecer mecanismos de controlo eficazes, tais como um Tribunal Internacional que tenha competência para julgar as empresas transnacionais”.

Keamogetswe Seipato, Coordenadora da Campanha da África Austral para Desmantelar o Poder Corporativo, e do Centro de Informação e Desenvolvimento Alternativo (AIDC), África do Sul, reivindicou:

“Temos de reduzir ou limitar o poder das empresas. O continente africano é um terreno fértil para as violações dos direitos humanos. A primazia dos direitos humanos deve ser respeitada. É uma questão de sublinhar a necessidade das empresas serem responsáveis porque não podem vir aos nossos países para negligenciarem as principais Convenções de Direitos Humanos. Devemos recordar que o Tratado Vinculativo da ONU deve ser um mecanismo que permita que as comunidades tenham acesso à reparação devido a violações dos direitos humanos – um mecanismo que proporcione tanto a assistência como o apoio que as pessoas afectadas necessitam.”

i Este mandato é resultado da Resolução 26/9 adoptada pelo Conselho de Direitos Humanos em 2014. Página oficial: https://www.ohchr.org/en/

ii A Rede Global Interparlamentar em apoio ao tratado vinculativo da ONU é formadas por mais de 300 membros de parlamentos de todo o mundo. https://bindingtreaty.org

iii https://bindingtreaty.org/

iv A Campanha Global para Reivindicar a Soberania dos Povos, Desmantelar o Poder Corporativo e Parar a Impunidade (Campanha Global) é uma rede de mais de 250 movimentos sociais, organizações da sociedade civil, sindicatos e comunidades afectadas pelas actividades das corporações transnacionais (TNCs), representando 260 milhões de pessoas a nível global. Para esta segunda sessão, a Campanha Global publicou a sua posição a respeito da segunda versão revista do tratado. https://www.

28 de Outubro, Genebra

VII Encontro Internacional de Agroecologia, Agricultura Sustentável e Cooperativismo de 15 a 23 de Novembro 2019.

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JA! participou em importantes discussões sobre Agroecologia em Cuba
Agroecologia não é apenas uma questão de opção mas uma necessidade urgente!!!

Os primeiros 2 dias foi uma Formação Política em Agroecologia dos Amigos da Terra Internacional, no Centro Integral da ANAP “Niceto Garcia Perez” em Guira de Melena, Cuba.

Este encontro dos Amigos da Terra Internacional antecedeu o VII Encontro Internacional de Agroecologia, Agricultura Sustentável e Cooperativismo da “Associação Nacional de Pequenos Agricultores” – ANAP.

Um dia do encontro, foi dedicado a visitas a três cooperativas todas em Guira de Melena, com o principal objectivo de perceber como funcionam as mesmas.

Os últimos dois dias do VII Encontro Internacional de Agroecologia, Agricultura Sustentável e Cooperativismo, foram inteiramente dedicados a apresentações e debates sobre várias experiências práticas da implementação de agroecologia, tanto em Cuba como em outros países.

Em plenária foram apresentados e discutidos:

– Os desafios e a urgência da necessidade de transição para uma produção agroecologica para assegurar o equilíbrio ecológico do nosso planeta. A transição para uma produção agroecologia é urgente e fundamental particularmente no contexto de muitos países em que o agronegócio, em larga escala e altamente controlada por interesses de grandes corporações pretende de todas as formas se estabelecer ou se manter e deter o monopólio de territórios, sementes, fontes de água, através do modelo capitalista desumano e explorador;

– A sustentabilidade económica, social e ambiental da agroecologia foi demonstrada com exemplos concretos nestes dois dias para além do que podemos observar nas visitas de campo efectuadas nos primeiros 3 dias do Encontro Internacional. Não podemos permitir que as corporações e governos a estas aliadas, e por estas controlados, continuem a alegar que a agroecologia não é economicamente sustentável! É sustentável sim! Não podemos permitir que continuem a drenar importantes recursos para a promoção e manutenção do agronegócio, para a implementação de falsas soluções para problemas criados pela ganância do homem e deste mesmo sistema capitalista que se assenta na exploração contínua de recursos. Como tem sido com a imposição de enormes programas agrícolas que se baseiam na exploração e usurpação de territórios, na imposição de sementes geneticamente modificadas, como os inúmeros programas de fomento agrícola e chamadas revoluções “verdes” que convencem que é necessário produzir cada vez mais comida e que isto só poderá ser alcançado pelo uso de cada vez mais fertilizantes e herbicidas químicos, que de facto contaminam e destroem territórios… e que pretendem antes de mais gerar lucro para as corporações que controlam este mercado…

Após uma manhã inteira de importantes discussões em plenária, os participantes tiveram a oportunidade de participar nas diferentes comissões para debater em maior profundidade:

– Agricultura familiar e soberania alimentar;

– Agroecologia e meio ambiente;

– Biodiversidade e sementes;

– Reforma agrária, território e cooperativismo;

– Género, processos de formação e promoção da agroecologia;

Houve ainda oportunidade para perceber melhor o impacto que o embargo económico, injusto e desumano que os Estados unidos da América colocou a Cuba há quase 60 anos, que afecta não só toda a economia do país como todo o povo cubano… nesta conferência foi elaborada e assinada pelos participantes uma declaração de solidariedade com o povo Cubano e de repúdio ao embargo!!! Foi também apresentado e discutida a Estratégia Nacional do Ambiente de Cuba, incluindo o Plano Estratégico para a mitigação das mudanças climáticas e discutidas as ações prioritárias para fazer face aos inúmeros impactos destas no planeta e em Cuba em particular.

Foi notável a presença e participação nestes dois dias de inúmeros e importantes quadros do governo de Cuba, ligados ao Ministério da Agricultura e aos vários institutos de pesquisa e universidades. Mas mais notável do que a mera presença foram os discursos dos mesmos, em particular do Vice Ministro da Agricultura, que reconhece e identifica os inúmeros desafios da agricultura em Cuba, a necessidade urgente de transição para a agroecologia para assegurar a manutenção do equilíbrio ecológico, uma alimentação mais saudável para todos, e a valorização e a exaltação do campesinato cubano…

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É fundamental desenhar e implementar políticas públicas que realmente respondam aos actuais desafios e valorizem antes de mais a Humanidade e a vida na Terra, em todos os sectores mas neste caso em particular na agricultura! O discurso do Vice Ministro da Agricultura de Cuba foi carregado de largos elogios ao campesinato, ao imenso e árduo trabalho destes e das cooperativas e da ANAP para produzir mais e melhor a cada dia, do imenso trabalho na implementação cada vez maior da agroecologia foi e …é um orgulho ser camponês em Cuba, é sem dúvida para os próprios camponeses e camponesas um enorme orgulho ser camponês mas também o é para todo o cubano! é valorizado a todo o momento o trabalho que fazem e a sua enorme e imprescindível tarefa de produzir alimento saudável para todos! Não pude, como é óbvio, deixar de notar com muita tristeza a enorme diferença entre esta realidade, em que o campesinato tem de facto o apoio político e governamental e a realidade triste do nosso país….

O encontro terminou com muita emoção por parte de todos os participantes, com declarações dos representantes de vários países e fechou com uma festa típica cubana, carregada de música, boa disposição e muita solidariedade e partilha!!!

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